POEMA DO FANÁTICO
Murilo Mendes
in: Obra completa poesia e prosa
Não bebo álcool, não tomo ópio nem éter,
sou o embriagado de ti e por ti.
Mil dedos me apontam na rua:
eis o homem que é fanático por uma mulher.
Tua ternura e tua crueldade são iguais diante de mim
porque eu amo tudo o que vem de ti.
Amo-te na tua miséria e na tua glória
e te amaria mais ainda se sofresses muito mais.
Caíste em fogo na minha vida de rebelado.
Sou insensível ao tempo - porque tu existes.
Eu sou fanático da tua pessoa,
da tua graça, do teu espírito, do aparelhamento da tua vida.
Eu quisera formar uma unidade contigo
e me extinguir violentamente contigo na febre da minha, da tua da nossa poesia.
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